terça-feira, 12 de maio de 2009

A PROSPOSTA ÉTICA NAS BEM AVENTURANÇAS

Quando analisamos o texto de São Mateus a respeito das bem-aventuranças, podemos perceber a situação que está presente enquanto questão ética, pois os mesmos testos nos remetem a uma reflexão mais apurada sobre os textos, sendo eles de suma importância para o nosso analisar eticamente.
Primeiramente temos os bens aventurados os pobre s de espírito, onde a maioria dos Padres da Igreja entendeu a primeira bem-aventurança no sentido da humildade. Pois dentro de nosso estudo a respeito da ética, devemos observar este elemento de suma importância, pois a humildade nos leva a realizar uma caridade mais perfeita, ou próxima da perfeição, onde podermos estar nos ajudando mutuamente através desta caridade e humildade. Hoje, uma maioria dos exegetas estaria, sem dúvida, de acordo com o seguinte sentido: bem-aventurados aqueles que são pobres espiritualmente, interiormente; bem-aventurados aqueles que reconhecem depender inteiramente de Deus e a ele se entregam totalmente. Este entregar a Deus, é estar de acordo com sua realização de caridade e humildade. O ser humano deve ser dotado destes elementos, para que possam construir uma ética alicerçada na justiça e no respeito ao outro. Sermos pobres de espírito não significa estar longe de Deus e da ética, mas sim estar buscando uma perfeição de tais realidades existentes no mundo, como já citado acima: humildade e caridade.
Dando continuidade, entramos a questão da bem-aventurança da mansidão, e este estar em mansidão significa estar buscando a reconciliação e a benevolência com o nosso próximo, pois nossos Padres da Igreja, e muitos autores de espiritualidade e alguns exegetas contemporâneos entendem que esta bem-aventurança se refere às pessoas que se mostram mansas e benevolentes em seus relacionamentos com próximo. No entanto, se a segunda bem-aventurança significa, como a primeira, uma atitude de total dependência em relação a Deus, a “mansidão” não é, em primeiro lugar, um modo de ser diante dos outros, mas diante de Deus. Esta relação para com Deus não poderia ser verdadeira, se não exprimisse, igualmente, as relações para com os outros.
O manso é aquele que não se deixa dominar pelas contradições da vida e sabe manter-se paciente na espera da plenitude. O manso não procura exercer violência sobre Deus, arrancar dele tudo que deseja. O manso aceita o tempo de Deus e a maneira de Deus. Não é, pois, um fraco, mas pelo contrário, um crente que tem grande força de alma.
Devemos também recordar dos aflitos, pois muitos deste nossos irmãos estão perdidos na sociedade, e esta aflição muitos vezes é por falta de uma ética alicerçada no amor de Deus e comunhão com o mesmo Deus. Assim, quando falamos de atitudes éticas para com o outro, é estar prontos também para acolher estes nosso irmãos aflitos.
Esta bem-aventurança remete para uma atitude em relação a Deus. Em tal contexto, a bem-aventurança dos aflitos tem verdadeiramente um alcance ético e religioso. Visa, em especial, às pessoas que vivem uma grande aflição humana, numa atitude de confiança em Deus. Assim como a mensagem de Cristo oferece aos “pobres” a verdadeira riqueza e aos “mansos” a verdadeira força, assim também oferece aos aflitos as compensações que acalmam a amargura das lágrimas, num mundo em que o sofrimento é uma lei da vida.
Agora entraremos em uma bem-aventurança que nos fala praticamente dentro do âmbito ético, que é os Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados. A expressão “fome e sede de justiça” significa o desejo ardente e a procura ativa de viver segundo a vontade de Deus. As metáforas da fome e da sede podem dar a entender que a justiça plena não deve ser produto só de esforços humanos.
Do mesmo modo como inaugura Jesus uma nova Aliança, também convida a uma nova justiça. A “conformidade à vontade de Deus” não é mais conformidade à Lei, e sim a todo ensinamento, inteiramente novo, de Jesus concernente às relações com os outros e com Deus. Convida-se o discípulo a viver um amor total para com todos, inclusive o dom e o perdão aos próprios inimigos; convida-se ainda o discípulo a se abrir para o Pai, numa atitude de humilde e total dependência, e num esforço constante de se amoldar ao dom de sua bondade para com todos. No Evangelho de Mt, a justiça de Deus, em relação aos humanos, é de outro tipo de justiça humana. É feita de gratuidade e de misericórdia. Assim, a bem-aventurança da justiça irmana-se à as misericórdia.
Finalmente, a justiça é atributo da filiação; melhor ainda, é a própria filiação. Situa-se para além da justiça moral dos fariseus, porque constitutiva do próprio ser; é uma justiça moral que, na sua fonte, é uma justiça ontológica, uma justiça teologal.
Esta justiça deve ser buscada e vivenciada por nós cristãos, em nosso dia-dia. Vivenciar de fato uma ética cristã alicerçada nos conceitos de justiça e moralidade em nosso sociedade. E isto pode ser difícil na sociedade em que estamos vivendo, mas não é impossível, pois devemos ser os primeiros a vivenciar e dar testemunho de nossa fé e também de nossa ética cristã.
Sermos éticos é também vivenciar a misericórdia em nosso viver cotidianamente. Pode-se dar uma definição de “misericordiosos” que combina com a etimologia de nosso vernáculo: os “corações” atentos às “misérias”. Trata-se de um estado interior que se traduz no agir. Os misericordiosos são aqueles que, efetivamente, abrem seu coração para os outros e executam gestos de lenimento a sua aflição.
A misericórdia da qual se trata aqui é uma simples sensibilidade do coração que nos leva a nos compadecermos da miséria dos outros. O que o texto inculca é antes um modo de agir, de tratar os outros. A bem-aventurança nos adverte que Deus nos medirá com a mesma medida com que tivermos medido os outros (Mt 7,2). Para Mt a) a misericórdia se mostra perdoando aos outros (Mt 18,23-35); b) e a misericórdia se mostra socorrendo a todos os que se encontram em necessidade (Mt 25,31-46). Sendo assim, que possamos buscar esta misericórdia dentro de nosso contesto ético e moral.
Temos ainda uma bem-aventurança muito importante, pois a mesma nos fala de pureza, e hoje para buscar uma pureza devemos nos esforçar não só através de nossos pensamentos, mas também de nossos atos, ações concretas, pois os bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus, sendo assim, a pureza procurada é de ordem moral, ou seja, esta presente uma ética cristã. Situa-se não somente no nível do comportamento exterior, mas ainda das disposições íntimas.
A bem-aventurança em Mateus dos “puros de coração” designa as pessoas que são interiormente isentas de malícia e de perversidade, que buscam o bem, que são retas e leais em relação a Deus e ao próximo. Para Mateus os puros de coração são aqueles cuja ação exterior está em sintonia com seu ser profundo. São pessoas que vivem em harmonia com o que pensam, dizem e praticam. Um termo atual para identificar esta bem-aventurança poderia ser “autenticidade”, se se entende nesta palavra não apenas “sinceridade”, mas a busca da verdade e retidão, nos seus relacionamentos com Deus e com os outros, bem como a busca de transparência no ser e no agir. Devemos assim buscar uma profundidade em nosso agir humano, enquanto pessoas preparadas para aceitar e conviver com uma ética de princípios e atitudes morais adequados a nossa realidade de cristãos.
Uma outra bem-aventurança é aquela que esta relacionada com a paz, que é bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Os artífices de paz são pessoas “que se dedicam ativamente a estabelecer ou restabelecer a paz ali onde os homens estão divididos entre si” e também são aqueles que trabalham por estabelecer as condições favoráveis, a fim de que todos e cada um possam expandir-se na linha de sua humanidade. A paz a construir não é uma paz “a qualquer preço”, sobretudo não ao preço de sacrificar o comportamento com Jesus e com os valores evangélicos. Esta paz que hoje nos falta a buscar, que já a muito tempo nos é pedido, paz de coração, de espírito, onde possamos ser pessoas que possam transmitir a paz verdadeira e santa.
Por fim, falaremos da bem-aventurança dos que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Exatamente por promover uma ética de princípios que muitos são perseguidos e até mortos, na busca da verdadeira ética cristã, que é a busca da justiça, para que todos possam ser iguais. Ainda, podemos destacar que quando perseguidos, temos que ter ainda mais nossa confiança em Cristo.
É preciso reagir a certas interpretações deformadas desta bem-aventurança e sublinhar que se procura com ela a fidelidade ao Cristo, não a perseguição. Se se perseguem os discípulos, sua bem-aventurança nada tem a ver com a perseguição em si, mas com sua fidelidade a Jesus, por quem sofrem.
Fonte: Próprio Autor do Blog

BIBLIOGRAFIA

BENTO XVI, Papa. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta, 2007.

CHEVROT, Georges. O Sermão da Montanha, 4ª ed. São Paulo: Quadrante, 1971.

DUMAIS, Marcel. O Sermão da Montanha: Mateus 5-7, cadernos bíblicos – 73. São Paulo: Paulus, 1998.